A respiração da Alicia apanhou. Ela enxugou as palmas das mãos no casaco e se aproximou do Steinway como um peregrino em um altar. Seus dedos pairavam, delicados e instáveis, sobre as teclas. Ninguém poderia ter previsto o que viria a seguir.
As primeiras notas eram tímidas, quase frágeis, como se ela estivesse se recuperando da própria vida. Em seguida, uma onda de emoção tomou conta—uma improvisação profunda e assombrosa que mistura a forma clássica com as inflexões do jazz, moldadas pela dor, resiliência e humanidade crua. O salão de baile congelou. Os garçons pararam no meio do passo. Os talheres não batiam mais contra os pratos.
Os olhos de Lawrence estreitaram-se, não com suspeita, mas com reconhecimento. Ele conhecia aquele toque, aquele fraseado, aquela alma. Alicia não estava apenas se apresentando—ela estava confessando sua história de vida através da música
A melodia subia e descia, terna mas Furiosa, uma tradução de anos de noites desfeitas e sonhos inalcançáveis. Seu corpo balançava a cada crescendo; em momentos, parecia que a música poderia quebrá—la-mas ela continuava, mais forte a cada vez.
No terceiro minuto, os convidados enxugaram os olhos. Seu jogo não era impecável, mas era inegavelmente genial.
Quando a última nota entrou no tecto abobadado, o silêncio durou mais tempo do que qualquer aplauso poderia ter. Alicia sentou—se, tremendo, sem saber se havia arruinado tudo-ou se havia se redimido.
Colocando a mão firme em seu ombro, ele perguntou baixinho: «Alicia, onde você aprendeu a tocar assim?”
«Minha mãe me ensinou … antes de morrer», ela sussurrou. «Uma vez tive uma bolsa de estudos. Uma vida … mas perdi tudo. Há quase seis anos que não toco num piano a sério.”
Choque, simpatia e curiosidade se espalharam pela multidão.